segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O Grupo

A DI cia. de dança é um eixo de trabalho que se insere dentro de uma estrutura macro denominada CIEM.h2 (Centro Integrado de Estudos do Movimento Hip Hop). A experiência do grupo está pautada no processo conceituado como dança inclusiva - dança que envolve em cena pessoas com e sem deficiências-, todavia ao perceber que este conceito carrega em sua natureza uma dimensão também limitadora e mesmo estigmatizante optamos pela sigla DI a fim de suscitar uma definição infinita para este processo, ou simplesmente uma dança imperfeita e uma distinta identidade assim como a gente deseja que seja.

A experiência desse trabalho fundado em 1° de abril de 1999 em Macaé se confunde em princípio com a história de vida do coreógrafo Paulo Azevedo. Em 1997 após sofrer um acidente de carro, o coreógrafo conheceu novas possibilidades de movimento ao vivenciar o cotidiano em uma cadeira de rodas. Em seguida, Paulo Azevedo iniciou um projeto voltado exclusivamente para pessoas com deficiências, é desse espaço compartilhado que surge a experiência da DI cia. de dança.

Tal experiência pode ser descrita em três fases de desenvolvimento que são exatamente especificadas pelos nomes do grupo que foi se transformando.

1ª fase
No princípio a ausência de referências próximas levou a construir uma metodologia baseada na
descoberta e na exploração de possibilidades destes novos corpos em questão, do novo corpo do
coreógrafo em questão. Pode-se dizer que este primeiro momento tenha sido de dança terapia e funcionava como um módulo agregador de emoções e conflitos, sendo o corpo o espaço e o tempo deste encontro, ou simplesmente o fio condutor destas emoções e conflitos. Nesta fase o grupo se chamava cvi´n dance – CVI é o nome da instituição onde se iniciou a experiência.

2ª fase
Idos três anos o processo começou a apresentar novos desafios, o maior deles ser capaz de
construir um processo artístico tendo como parâmetros a presença de um corpo imperfeito e um público assistencialista sem tornar o primeiro dependente da re-ação piegas do segundo. Na 2a fase o grupo passou por dois nomes, Dança Inclusiva (em projeto) a fim de pontuar a nova proposta e, logo em seguida Dança Inclusiva. É neste período que surgem as pesquisas ´O Heterohomogênico´ (2002) e Pseudópodos (Procedimento I, 2002-03; Procedimento II, 2005-06 e Resultado, 2006).

3ª fase
Avançando nas premissas postas como desafios, percebeu-se que o horizonte que se aconchegava era o de perceber que é justamente o olhar, ou a maneira de olhar que determinava a transformação em cada fase. Portanto, o olhar só se torna inclusivo na medida em que cada participante, ora intérprete, apresenta-se pelo contato como um sujeito protagonista de ações. É daí que se resulta na máxima ´construir uma dança para um corpo e não um corpo para uma dança´. E é assim que vamos chegando a atual fase da experiência em foco: a DI cia. de dança.

Objetivos

*Possibilitar um canal aberto de experimentações e valorização das vivências e inteligências dos intérpretes a partir de laboratórios, espetáculos, atividades de socialização e debates.

*Utilizar o processo de trabalho como um pivô para (trans) formação intelectual, artística e cultural dentro de uma perspectiva humana.

*Investigar o corpo como um lugar de aproximação, possibilitando uma dança que exista sem que o foco seja a deficiência ou mesmo a ´necessidade de superar limites´. Todavia, não se deixa de explorar que a limitação e o desequilíbrio sugiram a construção de outros movimentos, gestos e expressões.



Processo de trabalho e metodologia


A força do processo de trabalho está na própria equipe. O grupo funciona como espaço de criação,
mas também de formação. Os participantes da experiência vão ampliando seus respectivos protagonismos dentro do grupo a partir da realização de novas funções, transmissão e acúmulo de práticas e conhecimentos. Essa condição se traduz em novos espaços de diálogo, responsabilidades e desafios.

O planejamento se faz por sessões de trabalho organizados em planos de aula, roteiros dos
espetáculos para os ensaios e proposição de laboratórios de criação e dramaturgia, os quais servem de material para a avaliação e evolução do processo de trabalho compartilhado.

Os registros se dão por anotações do tipo diário, bate-papo após as sessões de trabalho, anotações dos participantes sob a forma de e.mails e diários, registros fotográficos e de vídeo. No caso destes últimos todos os participantes assistem aos vídeos a fim de precisar uma avaliação individual e do trabalho como um todo, portanto, otimizando o processo sugerido.

Numa perspectiva pedagógica, opta-se por uma metodologia ciclada, onde o processo de avaliação se faz numa escala individual (contínua), comparando a evolução de cada participante consigo próprio. Já na dimensão artística, a crítica de dança discute junto ao coreógrafo, ao grupo e a ensaiadora os resultados do processo estético e a natureza técnica impressa como vocabulário de cada intérprete, pontuando dinâmicas e atividades que podem vir a favorecer o processo de trabalho. Por fim, os intérpretes discutem os processos sugeridos durante as sessões de trabalho a fim de pontuar as percepções e os entornos sobre as vivências realizadas.

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